sexta-feira, maio 19, 2006

Palestra de Oscar Diáz e Portaria Pró-Ciclista


(Oscar Diáz, Gilberto Kassab e Eduardo Jorge)

Tarde de quinta-feira (18), auditório da Prefeitura. O colombiano Oscar Diáz (diretor para a América Latina do ITDP) fez uma bela palestra sobre transporte sustentável e as transformações implantadas em Bogotá durante a gestão do prefeito Enrique Peñalosa, do qual foi "braço esquerdo" (como ironizou o secretário paulistano do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge).

A palestra fez parte do projeto Aula São Paulo, da Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura.

Algumas realizações e princípios da prefeitura de Bogotá:
- O estacionamento de veículos é um problema privado e deve ser resolvido no âmbito privado. Não cabe ao poder público construir garagens e estacionamentos. A prefeitura deu, no máximo, incentivos fiscais (por 10 anos) para que a iniciativa privada construísse estacionamentos nos locais críticos.

- Em cidades subdesenvolvidas, o poder público deve escolher: ou pavimenta ruas, ou constrói praças, ciclovias e parques. Bogotá optou pela segunda opção. Diáz mostrou fotos de belas praças, calçadas e ciclovias construídas ao lado de ruas de terra.

- Antes de pavimentar as ruas nos bairros pobres, a prefeitura construiu 340km de ciclovias e uma via para pedestres e ciclistas de 17km.

- Aos domingos, 120km de ruas da cidade são fechadas aos carros e abertas às pessoas.

- Diversas iniciativas foram criadas para "mandar mensagens" aos motoristas que os pedestres têm prioridade na cidade.

Frases interessantes:
- Por mais de 5 mil anos, as "cidades" foram feitas para pedestres. Somente nos últimos 80 anos, a humanidade voltou o planejamento de seu espaço público brutalmente para os automóveis.

- As calçadas são "parentes" dos parques e praças, não das ruas e avenidas. As calçadas, ao contrário das ruas, não são meros espaços de passagem, mas sim de encontro, de convivência.

- Ninguém volta de Paris elogiando as autoestradas francesas. Todos se lembram dos espaços por onde caminharam. O que torna as cidades memoráveis são os seus espaços para pedestres.

- Quando as pessoas preferem se encontrar em um shopping center e não no espaço público, é sinal de que a sociedade está doente.

- O problema do transporte não é técnico, é político.

Portaria Pró-Ciclista
Depois da palestra memorável de Diáz e de algumas perguntas, o prefeito Gilberto Kassab entrou no auditório para assinar uma "Portaria Pró-Ciclista". A portaria, que deve ser publicada no Diário Oficial nos próximos dias, prevê a criação de um grupo de técnicos de vários órgãos públicos (CET, SP Trans, Secretaria do Verde, etc) para "planejar e ordenar o crescimento do transporte cicloviário na cidade". O grupo deverá auxiliar a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que estava sozinha no desenvolvimento de políticas cicloviárias.

O prefeito citou ainda que existe uma idéia de criar, aos domingos, uma ligação livre de carros entre o Parque do Povo (av. Cidade Jardim) e o Parque do Ibirapuera. Ao contrário de Bogotá, a idéia paulistana é aproveitar apenas uma das pistas das avenidas e não fechá-las totalmente ao tráfego motorizado. A dimensão do projeto também é reduzida: ao contrário dos 120km de Bogotá, a ligação entre os dois parques não tem mais de 15km.

Infelizmente, o prefeito ainda tratou ciclistas como esportistas e causou espanto (ao menos em mim) ao dizer que desde o primeiro dia do governo José Serra, o transporte público tem sido prioridade. E os calçadões fechados? E a cosntrução de 0 (zero) corredores de ônibus? E a liberação de automóveis particulares nos mesmos corredores aos sábados, domingos e feriados? E o fim dos "domingos na Paulista" e na Sumaré? E o aumento da tarifa dos coletivos como primeira medida de governo? Hmmm, estranho....

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Comments:
Sabe o que é mais intrigante?
A divulgação desse evento, só fiquei sabendo destes seminários pelo excelente blog do luddista, senão nunca teria descoberto isso.

Infelizmente os veículos de comunicação em massa só publicam o que tem interesse para eles e para a minoria que controla o povo.

Esses ataques na cidade tiveram os ingredientes que todos queriam: sangue, morte, bombas, violência, maior Ibope, jornais mais vendidos, sites mais acessados.

Bom, viva a Bicicleta e vamos que vamos.
 
Sabe o que é mais intrigante?
A divulgação desse evento, só fiquei sabendo destes seminários pelo excelente blog do luddista, senão nunca teria descoberto isso.

Infelizmente os veículos de comunicação em massa só publicam o que tem interesse para eles e para a minoria que controla o povo.

Esses ataques na cidade tiveram os ingredientes que todos queriam: sangue, morte, bombas, violência, maior Ibope, jornais mais vendidos, sites mais acessados.

Bom, viva a Bicicleta e vamos que vamos.
 
Não sei se vocês viram hoje no Fantástico, mas fizeram uma matéria sobre o trasporte feito pelos cidadãos de Berlim através de bicicleta.

Vou confessar que fiquei com inveja, mas foi uma inveja boa.

Eles espalham bicicletas pelas ruas, que ficam presas e você pode alugá-las através de um telefone, comprando um código por cartão de crédito.

Ciclovias espalhadas e pessoas conscientes que a bicicleta é útil para muitas coisas.

Um exemplo.

Bike é vida.
 
Tô gostando dessas reportagens que vêm saindo no Fantástico. Vi essa de Berlim... semana passada mostraram os transportes públicos na Suiça.

Um Globo Repórter desse mês também focou o tema dos transportes nas cidades brasileiras.

Espero que o povo brasileiro assistindo a essas reportagens pelo menos perceba o que é vida de verdade.

Já que, o que a Globo mostra vira moda, quem sabe o Fantástico batendo sempre nessa tecla, também não vire moda o transporte coletivo e não motorizado aqui no Brasil... E quem sabe se as pessoas percebendo como é bom viver sem automóveis essa moda não dure pra sempre?


Como disseram na palestra:

"O problema do transporte não é técnico, é político."

Os técnicos estão cansados de saber o que é bom para as nossas cidades. Mas se o povo não quiser mudar esse país, a política de mobilidade continuará beneficiando uma minoria de magnatas (indústrias de petróleo, autmóveis, pneus, auto-peças, etc) e causando a desgraça do próprio povo.
 
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